Inovação Sustentável no Setor de Tintas: Resinas de Base Biológica e a Redução da Pegada de Carbono

A indústria de tintas e revestimentos está em plena transformação rumo à sustentabilidade, impulsionada pelo avanço de tecnologias inovadoras voltadas à redução da pegada de carbono. Entre essas soluções, destacam-se as resinas e emulsões de base biológica, que apresentam alternativas sustentáveis sem comprometer o desempenho dos produtos.

O que é Pegada de Carbono?

A pegada de carbono é uma métrica que quantifica as emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas, direta ou indiretamente, a uma pessoa, organização, evento ou produto. Esses gases, como dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O), são responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. O impacto é expresso em toneladas de CO₂ equivalente (tCO₂e), permitindo uma análise precisa do efeito ambiental das atividades industriais e produtivas.

Como se Mede o Carbono Renovável?

A determinação do carbono renovável em materiais, como resinas e emulsões de base biológica, avalia a fração de carbono oriunda de fontes renováveis (biomassa) em relação ao total presente no material. Uma metodologia amplamente utilizada para essa análise é a quantificação do carbono-14 (¹⁴C), um isótopo radioativo naturalmente encontrado em compostos orgânicos recentes.

Essa análise é essencial para certificar a origem renovável dos produtos, garantindo conformidade com padrões de sustentabilidade e possibilitando uma tomada de decisão mais informada por parte das empresas e consumidores.

O que são Gases de Efeito Estufa (GEE)?

Os gases de efeito estufa (GEE) são compostos que retêm calor na atmosfera, intensificando o efeito estufa. Embora esse fenômeno seja crucial para a manutenção da temperatura do planeta, o excesso de emissões oriundas de atividades humanas tem agravado o aquecimento global e acelerado mudanças climáticas.

Os principais GEE incluem:

• Dióxido de carbono (CO₂): resultante da queima de combustíveis fósseis, processos industriais e desmatamento.

• Metano (CH₄): liberado na decomposição de resíduos orgânicos, pecuária e extração de combustíveis fósseis.

• Óxido nitroso (N₂O): emitido pela agricultura (uso de fertilizantes), processos industriais e combustão de combustíveis fósseis.

• Gases fluorados (HFCs, PFCs, SF₆ e NF₃): utilizados em sistemas de refrigeração, ar-condicionado e processos industriais.

A indústria de tintas e revestimentos desempenha um papel estratégico na mitigação dessas emissões, tanto por meio da otimização de processos produtivos quanto pelo desenvolvimento de formulações mais sustentáveis.

Principais matérias-primas que contribuem para a Pegada de Carbono

A fabricação de resinas e emulsões convencionais utiliza insumos que impactam significativamente a pegada de carbono:

• Monômeros de origem fóssil: estireno, acrilatos e epóxi, derivados do petróleo e gás natural, cuja extração e processamento são altamente intensivos em emissões de CO₂.

• Solventes Orgânicos Voláteis (VOCs): substâncias como tolueno, xileno e acetona, que, além de serem derivados de fontes fósseis, contribuem para a formação do ozônio troposférico e para a degradação da qualidade do ar.

• Aditivos petroquímicos: plastificantes, estabilizantes e agentes de cura derivados de compostos fósseis, que aumentam a pegada de carbono devido aos seus processos de síntese.

Impacto da substituição de matérias-primas na redução da pegada de carbono

A incorporação de resinas de base biológica no setor de tintas contribui significativamente para a mitigação do impacto ambiental. A substituição de matérias-primas fósseis por insumos renováveis reduz a emissão de CO₂ ao longo do ciclo de vida do produto, além de minimizar a liberação de compostos orgânicos voláteis (VOCs), resultando em melhor qualidade do ar.

Alternativas sustentáveis na produção de resinas e emulsões

Para reduzir o impacto ambiental, a indústria tem adotado matérias-primas mais sustentáveis na formulação de resinas e emulsões:

• Monômeros de origem biológica: substituição de monômeros petroquímicos por alternativas renováveis, como ácido succínico e 1,4-butanodiol de base biológica, empregados na síntese de polímeros como o polibutileno succinato (PBS).

• Solventes ecológicos: adoção de solventes biodegradáveis, como álcoois leves e ésteres naturais, reduzindo emissões de VOCs.

• Aditivos de fontes renováveis: utilização de plastificantes e estabilizantes derivados de óleos vegetais, reduzindo a dependência de produtos petroquímicos.

• Recursos reciclados e secundários: incorporação de materiais reciclados e resíduos industriais na produção de resinas, promovendo a economia circular e reduzindo a extração de novos recursos.

Resinas de base biológica: Uma nova abordagem para sustentabilidade

Essas resinas representam um avanço tecnológico crucial para a indústria de tintas e revestimentos. Fabricadas a partir de óleos vegetais e resíduos agroindustriais, elas reduzem significativamente as emissões de gases de efeito estufa e promovem uma cadeia produtiva mais sustentável.

Dentre os principais avanços nesse segmento, destacam-se:

• Poliuretanos de poliamida: polímeros de base biológica desenvolvidos para aplicações exigentes que combinam sustentabilidade e alto desempenho.

• Poliamida de alto desempenho 100% de base biológica: derivada do óleo de mamona, essa tecnologia se destaca pela versatilidade, segurança e durabilidade, alinhada aos princípios da sustentabilidade.

• Monômeros acrílicos de base biológica certificados e rastreáveis por Carbono 14: promovem a produção de polímeros acrílicos à base de água mais sustentáveis, garantindo a continuidade do fornecimento de matérias-primas renováveis.

Esses avanços impulsionam a indústria de tintas e revestimentos rumo a uma produção mais sustentável, alinhada às exigências ambientais e às demandas do mercado por soluções de menor impacto ambiental.

No Brasil, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati) estruturou o Programa Setorial de Sustentabilidade (PSS) para estimular práticas responsáveis no setor. A adoção de resinas de base biológica está diretamente alinhada a esse programa, promovendo a redução da pegada de carbono e incentivando uma abordagem mais sustentável na formulação de tintas e revestimentos.

A transição para resinas e emulsões de base biológica é um marco na jornada da indústria de tintas rumo à sustentabilidade. Além de reduzir a pegada de carbono, essas inovações demonstram um compromisso com a modernização do setor e com a crescente demanda por soluções de menor impacto ambiental. Ao adotar essas tecnologias, as empresas não apenas atendem às exigências do mercado e das regulamentações ambientais, mas também consolidam seu papel na construção de um futuro mais sustentável.

Se você leu até aqui e gostou desse assunto, conecte-se com a W2S em todos os nossos canais de comunicação para não perder nenhum assunto sobre Inovação, Governança e Tecnologia. Até a próxima!

W2S, transformando ideias em resultados!

-Por Wiliam Saraiva